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As tintas de Emma

  • Foto do escritor: Marta Picchioni
    Marta Picchioni
  • 6 de fev. de 2023
  • 2 min de leitura

Atualizado: 8 de fev. de 2023


Foi ao acaso que encontrei com a obra de Emma Larsson, artista sueca que define a própria arte como um ato de livre exploração. Antes de falar sobre sua obra, porém, é o encontro que me interessa: pensar nos deslocamentos e alcances que os encontros podem ter sobre nós.


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Em alguma medida, as imagens criadas por Emma acionam no interlocutor algo do campo da indeterminação, que é o que resulta do encontro entre cores quando deslizam sobre o papel, criando efeitos estéticos também únicos e imprevistos.


Como as marcas em uma superfície de inscrição primeira, as cores em movimento penetram nosso olhar, que segue diluído entre margens borradas. Não à toa, dizem que a vida imita a arte…


Também no cotidiano, os encontros são capazes de produzir desvios e nublar contornos, deixando o rastro de seus efeitos inusitados sobre nossos corpos. Seja com uma pessoa, uma obra, uma cena ou entidade, cada encontro é capaz de acionar em nós linhas diferenciais que nos fazem escorrer para lugares inexplorados.


Grande pensador da arte dos encontros, Espinosa chama a atenção para a questão dos usos. Para além de nos deixarmos afetar pelos efeitos alegres ou tristes de cada encontro, trata-se mais de investir nos modos como agimos sobre um encontro, para que deles possamos extrair uma linha diferencial.


Aqui, já não importa tanto que estejamos diante de um bom ou mau encontro - se isso nos alegra ou nos entristece -, pois, fazendo dos usos nossa bússola ética, trata-se mais de atentar aos movimentos postos em marcha para que saiamos diferentes de como entramos neste plano de composição.

Devir a ser. Assim como uma obra nunca será igual a outra, o mesmo acontece com a produção de diferença em nós. Trata-se da coragem para fabricar um devir ativo, livre do império das formas e das formalidades, pois é no fluxo do movimento que uma linha diferencial nos impulsiona ao devir.


É fácil entender isso com as tintas de Emma. Há fluxos intensos e menos intensos, intensidades de forças variadas que pedem passagem: o que vemos são cores entrando e saindo umas nas outras, fabricando formas sem nome e territórios inusitados, possíveis apenas pela pressão sentida corpo a corpo.


No processo analítico ocorre algo parecido, que faz com que nossos territórios existenciais se expandam a cada vez. Ainda que não se trate de mistura, cada encontro põe o corpo e o olhar em movimento, fabricando amplitudes e alargando horizontes a partir dos quais os fluxos de movimento intensivos do desejo podem encontrar lugar de passagem.


Tanto na vida como na arte, trata-se da coragem para abrir mão das formas fixas e das intencionalidades para dar corpo ao que, de todo modo, já se encontrava em movimento, como nos mostram as tintas de Emma.


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© 2022 Marta Picchioni

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