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Eu tenho pressa e tanta coisa me interessa, mas nada tanto assim.

  • Foto do escritor: Marta Picchioni
    Marta Picchioni
  • 23 de jan. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 24 de jan. de 2024


O hit entoado pela voz de Paula Toller em algum momento da década de 1980, não cansa de atualizar um ritmo entre o displicente e o frenético, associado à juventude. É mais ou menos esta espécie de interesse rarefeito de quem tem o mundo inteiro pela frente que vemos em ação no filme dirigido Joachim Trier, A pior pessoa do mundo.





Nem a pior, tampouco a melhor, qualidades que parecem deslocadas quando pensamos em pessoas e em suas trajetórias. O que o filme nos oferece é estar na companhia de Julie e às voltas com as andanças e tropeços próprios de uma jovem de trinta anos, que transita pela vida em busca de uma faísca perdida, que possa lhe servir de guia. 


A fatídica idade de 30 anos pode causar algum estranhamento ao ser associada aos dilemas da juventude, já que, há uns duzentos anos, referia-se justamente às balzaquianas, mulheres maduras que após cumprirem a risca o combo casamento/maternidade, também viviam às voltas com a sombra da tal faísca. 


Distante da mulher descrita por Balzac, Julie também padece de algo que se avizinha àquele vazio, só que agora, não pela falta de caminhos para realizar seus desejos, mas talvez por seu excesso. As possibilidades são tantas que a dificuldade está justamente em escolher apenas um caminho, quando todos os outros devem ser deixados para trás. A lógica de consumo que abarca toda a gama da existência, também nos consome pela impossibilidade de portar um selo que garanta: sua felicidade ou seu tempo de volta. Não há garantias quando se trata da busca pela certeza de ter feito a “escolha certa”. 


Entre escolhas e desistências, é do desejo que se trata, um desejo que parece estar sempre à distância e nalgum outro lugar. É assim que a protagonista se move, de ocupação em ocupação - médica, psicóloga, fotógrafa - e de relação em relação, como se corresse contra o tempo em busca de uma experiência boa o suficiente para preenchê-la por completo.


O que quer Julie, afinal? 


Sabemos ao menos o que ela não quer. De todas as escolhas possíveis, é a maternidade que se apresenta como definitiva demais para poder ser desfeita, opção que não se apresentou para as mulheres de sua família que vieram antes dela e que, mesmo à revelia ou por falta de opção, deram passagem à sua própria existência.


Neste tempo que urge, talvez, a continuidade já não se garanta pela presença de filhos, mas por uma espécie de desaceleração que não faz da vida uma busca eterna por algo que não nunca se pode alcançar. Mas se sabemos que desejo é movimento, como aprender a se movimentar mais por interesses que por medos? 


Ao final, Julie está sozinha, mas também em boa companhia. Parece ter encontrado naquilo que faz, sua própria faísca e o lugar de onde extrair forças para continuar. 





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© 2022 Marta Picchioni

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