Grupalizar: um convite aos bons encontros!
- Marta Picchioni
- 20 de jan. de 2022
- 2 min de leitura
Era uma vez um Mundo.
Oswald de Andrade
Não é nenhuma novidade o fato de vivermos tempos individualizantes. Somos convocados a nos autoconhecer, a investigar as entranhas, personalizar gostos e gestos, os mais variáveis. Nesta direção, até a inteligência artificial tem contribuído, mapeando interesses e produzindo nichos sob medida, nos tornando menos propensos ao movimento de ir ao encontro do Outro, este estranho desconhecido.

imagem: Tarsila do Amaral
O Outro. A disponibilidade para coexistir com esta instância de alteridade nunca foi fácil. Sendo um ou sendo muitos, o Outro é sempre uma questão de multiplicidades, campo de forças que no encontro com nossas próprias forças, produz novos e inéditos vetores.
Tal multiplicidade, ao se movimentar, faz pressão sobre o terreno, desloca limiares e altera contornos. Desestabiliza e desarranja. Assim, muitos o pensam como um lugar fixo, externo, e onde o inferno faria morada, já que, com suas provocações, muito do que somos ou com o que nos identificamos vêm abaixo.
O mais interessante, no entanto, é que o Outro, essa multiplicidade, já está aqui, dentro e fora, se atualizando nos encontros e nos atravessamentos dos quais tomamos parte. Como seres devoradores, nós o engolimos e roubamos dele o que há de melhor. E também retribuímos, alimentando o circuito afirmativo da produção de linhas desejantes.
Era uma vez um mundo, diz Oswald de Andrade. O movimento antropofágico presentifica o circuito das trocas, perfurando contornos, e empreendendo uma desterritorialização de si, condição para criação do inédito.
Economia do roubo e do dom, antropofagia da dádiva, onde cada encontro é um presente que nos povoa e nos faz transmutar. A narrativa então se atualiza e dirá de outra ruína: Era um vez um eu. Aqui nos tornamos multidão e descobrimos o prazer de estar em terreno baldio, superfície lisa, onde o pensamento pode borbulhar e o corpo desperta.
Talvez, tenhamos nos acostumado demais à ideia de que estar em grupo equivale ao estabelecimento de acordos e de consensos, a busca de um lugar seguro e confortável para pertencer. Mas aqui é o oposto: não uma composição indistinta de massa, nem um coletivo unificado. O encontro com o Outro, essa multiplicidade, é ocasião de pura produção de diferença, e afirmação das singularidades, em coexistência.
Essa é a grande virada! Não é preciso aderir a consensos nem a regimes de pensamento hegemônicos para coexistir. Não é preciso (re)agir pela manutenção do mesmo para tornar-se parte do que já está ai. Interessa-nos, justamente, a provocação de fissuras e de fendas, onde aprendemos a entrar em fluxo sem medo da deriva.
O convite está feito! Estar com o Outro é também uma oportunidade para outrar-se, demolir formas fixas e erigir novas pistas de dança.
( ... )
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