Por uma educação Comum e Singular
- Marta Picchioni
- 24 de out. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 15 de mar. de 2021
Quando pensamos em educação, inúmeras dúvidas e possibilidades nos vem à mente. É da educação escolar que falamos? Ou de uma educação em família? Ou ainda, do que seria considerado uma “boa educação”?

O fato da ideia de educação nos remeter a uma multiplicidade de imagens é bastante revelador. Ele nos mostra, na prática, que educar é uma tarefa coletiva e permanente, um intenso trabalho sobre nós mesmos que acontece, necessariamente, a partir de diferentes temporalidades, geografias e agentes.
Será no encontro entre todas essas variáveis que se dá a educação, o que não significa dizer que as tarefas, em um ou outro lugar - na escola, nas casas e nas ruas - e de um ou outro agente, sejam as mesmas. Elas devem atuar em composição.
Para isso, é preciso levar em conta as especificidades de cada cena e contexto, fazer a leitura do que pede cada momento e circunstância, sabendo alinhavar as linhas de força que se desenham nesses vários planos de composição: casa e escola, universos internos e externos.
A educação é, assim, um ato coletivo e compartilhado, em constante processo de registro e efetuação, que se faz por meio dos encontros e dos movimentos, sempre vivos e ativos.
Neste terreno, nada está dado de antemão, nem de uma vez por todas. É preciso agir e ensaiar, repetir e se aprimorar. Trata-se de um fazer, uma prática cotidiana, em boa parte artesanal, uma tarefa manual e que exige presença e destreza daqueles que com ela se comprometem.
Pois, em educação, tudo é feito no pequeno, no alinhavo de cada detalhe que, embora se repitam, também se modificam, a depender das variáveis em jogo, das relações de luz e sombra, das visibilidades e dos silenciamentos.
Assim como acontece com a previsão meteorológica, os caminhos trilhados em educação, sempre podem nos surpreender e nos indicar outros rumos, pois andam em devir. É preciso estarmos atentos: olhos e ouvidos bem abertos, conforme caminhamos na superfície dos acontecimentos.
É por isso que, em educação, não há receitas prontas nem garantias, nem conselhos, nem a pura repetição de fórmulas que, em outros contextos se mostraram bem sucedidas.
Nesse sentido, a educação se passa em um espaço que é comum a todos nós, um espaço que é coletivo e que nos pede implicação, pois é só no lugar dos encontros e da multiplicidade que um campo fértil para educar pode se constituir. E, se este é um campo do comum, é também produtor de singularidades, já que considera e afirma a radicalidade das nossas diferenças.
Não o mesmo para todos, não ao mesmo tempo e nem sempre no mesmo lugar. Educar é aceitar e afirmar a diferença em nós mesmos, e não acontece quando o que se tem como norte é a produção de padronização, sob o signo da igualdade. Há que saber distinguir entre educação e adestramento.
O campo do comum gera encontros que nunca são os mesmos e será a partir de seus efeitos singularizantes que uma educação pautada na alteridade e na diferença poderá se constituir.
Aqui, a ideia de um espaço comum composto por singularidades não se opõe. Ao contrário, cria inúmeras possibilidades de composição. Educar é, necessariamente, investir na possibilidade de compor com os outros e com o entorno e, assim, atuar no sentido de fazer emergir o que, a partir desse campo, poderá vir a ser.
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