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Sob as barbas do vento

  • Foto do escritor: Marta Picchioni
    Marta Picchioni
  • 23 de dez. de 2022
  • 2 min de leitura

Atualizado: 24 de dez. de 2022

Temos partilhado a sensação de que o tempo tem passado rápido demais - há até explicações científicas que sustentam esta impressão. Alguns a atribuem ao fato de vivermos numa época de culto aos instantes, onde cada notícia ganha status de acontecimento. O fato é que mais um ano se passa, nos atravessando como avalanche, afinal, não à toa, dizem por aí que o tempo voa!


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Mas, se é fato que o tempo passa, nós também passamos por ele num atravessamento que é sempre mútuo. E o percurso dessa passagem nos toma de assalto: o que e como nos foi possível experimentar a vida?


Talvez tenhamos feito promessas, curtidas na esperança de, quem sabe, sermos contemplados pela generosidade dos deuses. Talvez tenhamos produzido desvios de rota, ousando criar realidades que não suspeitávamos possíveis.


Se o bom cultivo do solo depende de um bom tempo, talvez, as condições favoráveis não digam respeito somente à presença do sol ou das chuvas. Um bom tempo também pode ser efeito do uso de boas ferramentas, a partir de certas condições de temperatura e pressão.


No tempo dos instantes, os flashes de realidade lançados ao vento tem sido tomados como a própria fonte da vida. Ao tomar tais imagens como causas e não como efeitos, temos padecido da sensação de que a grama do vizinho anda sempre mais verdinha, o que produz sofrimento e sensação de insuficiência.


Enquanto nos dedicamos a nos ocupar das façanhas alheias, o tempo passa e continua a passar, sempre disposto a se oferecer como dádiva. É esta passagem que nos convida a pensar que a almejada intensidade pode bem mais perto - e ser cultivada em nosso próprio jardim.


Que tipo de encontros temos plantado? Temos nos dedicado a sustentar o intervalo necessário para que novos horizontes se anunciem?


Pois, ainda que o fim de um ano faça parte de um protocolo cronológico, podemos fazer uso da ocasião para empreender uma análise dos tempos e dos ventos, tendo cuidado para que nossos desejos não caiam numa espécie de distância inatingível ou de congelamento paralisante.


Se o tempo passa a seu tempo, que possamos também passar ao nosso, cultivando durações e consistências que durem o quanto for necessário para que outros territórios existenciais possam emergir.


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© 2022 Marta Picchioni

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