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Sobre viver e finalizar processos

  • Foto do escritor: Marta Picchioni
    Marta Picchioni
  • 2 de nov. de 2022
  • 2 min de leitura

Ando onde há espaço:

– Meu tempo é quando.

Vinicius de Moraes



Embora bem saibamos: tudo se passa pelo meio, vale afirmar que os processos também chegam ao fim. Seja por um corte dado de fora, ou pelo enfraquecimento de seu próprio fluxo, um dia, os processos se concluem. É quando podemos constatar que algo em nós se efetuou e já não somos os mesmos.


Ao fim de cada processo, uma diferença se instala. É quando voltamos ao circuito intensivo dos desejos e nos lançamos no jogo outra vez. A abertura à imprevisibilidade dos acontecimentos é condição necessária ao eterno retorno da produção de diferença em nós.


Processos se passam em um puro meio, na superfície de encontros onde semeamos, cultivamos e colhemos algo que em nós se instaura. É assim que permanecemos no campo e produzimos mudança. Repetição e diferença a um só tempo.


O dia de finados afirma a ideia de finitude, lembrando que todo meio comporta uma infinidade de fins. A data pode ser povoada por afetos tristes, que nos remetem à ausência material de quem se foi, e/ou celebrada com a alegria de quem reconhece o fim como parte do circuito da vida intensiva.


A diferença remete, justamente, àquilo que entendemos como presença, que também pode se atualizar à medida em que passa a compor nossas memórias, histórias e ancestralidades. Os finados - ou os já efetuados - tornam-se presenças ativas que nos habitam do lado de dentro, por onde continuam como companhia.


Efetuação e continuidade aparecem então como partes indissociáveis do jogo da vida, indicando que os processos acontecem em um ciclo ininterrupto de finalizações e recomeços.


Se a vida é presente e o tempo, dádiva, resta-nos fazer deles o melhor uso. Seja a partir de uma perspectiva cronológica - com hora incerta para acabar - seja de uma perspectiva aiônica, que fala de uma totalidade sem bordas nem final; a tarefa é tomar nossos quandos e ondes como bons aliados.


Como diz o poeta, andamos onde há espaço e ao andar (n)os alargamos. Toda colheita, afinal, é fruto de nossa implicação com o processo.



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© 2022 Marta Picchioni

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